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Por que tecendo o verbo?


“No princípio era o Verbo…” (Jo 1,1)

“(…)Só o céu existia. (…) Tudo era invisível, tudo estava imóvel no céu. (…) Nada existia. Somente a imobilidade, o silêncio, nas trevas, na noite. (…) Então veio a Palavra(…)” (Popol Vuh, 2)

Verbo remete a palavra. E a palavra é considerada, ao longo da história e das culturas, como criadora, mágica, portadora de sabedoria. Tanto na Bíblia, quanto no livro sagrado dos Maias (o Popol Vuh), citados acima, vemos esse potencial criador, essa força que tira da imobilidade, que transforma e constrói.

A palavra também foi associada ao universo mágico. Em O Senhor dos Anéis, de Tolkien, vemos como, supondo que o mago que encontravam na floresta e podia atacá-los se tratava de Saruman, os remanescentes da Sociedade do Anel alertam que não deixassem que ele falasse. Ou seja, ao pronunciar palavras mágicas, o possível inimigo poderia contê-los ou destruí-los. Também são palavras que concretizam conjuros na tradição popular de origem celta da Galicia (o conxuro da queimada), ou no universo literário de Harry Potter.

A palavra, claro, também pode destruir. Estão aí as fofocas, as intrigas, os jogos políticos e os estratégicos militares em tempos de guerra, as atuais fake news. Mas, para o bem ou para o mal, o poder está não exatamente na palavra por si só, mas nas mãos (e bocas) daqueles que a tecem e utilizam.

Porque se trata disso: de tecê-la, formando textos. Aliás, o termo “texto” vem do latim textum,i e significa exatamente entrelaçamento, tecido, contextura. E esse tecer envolve a palavra entrelaçada com outras palavras, inserida numa sociedade, num tempo, num espaço, interagindo com o ontem, o hoje, as perspectivas do amanhã, o eu e os demais.

Por isso teço o verbo. Brinco com a palavra; me divirto com a experimentação de suas variadas tramas, cores, perfumes, sabores, ideias. E a compartilho, assim tecida, com vocês, esperando que entrem no jogo e participem da tecelagem.

Sejam benvindas e benvindos!

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