Opinião

E por falar em Natal

Por: Cristina Vergnano

Esta é uma época do ano especial, mas, também, complexa. Não raro, pessoas se deixam tomar por melancolia, pois perderam alguém querido ou vivem solitárias. Outras se envolvem num frenesi de compras e eventos, os quais mal lhes deixam perceber a passagem do tempo. No que se refere ao Natal, como se trata, em sua essência, de uma festa religiosa, sempre surgem polêmicas. Algumas derivam das críticas ao consumo exacerbado e materialismo. Outras, em oposição, refletem o desconforto daqueles que se sentem desrespeitados pela ênfase no sagrado, ao invés de nos festejos de maneira geral.

Se pararmos para refletir de forma isenta, encontraremos certa procedência em ambos os posicionamentos. Desde o ponto de vista cristão, o foco na encarnação de Deus é minimizado ante tantos apelos por presentes, comidas, bebidas, roupas novas e pelo protagonismo da figura do Papai Noel. É possível interpretá-lo, por conseguinte, como uma banalização do caráter sacro da data. Isto, porém, concerne diretamente a quem professa tal fé, o qual, por coerência, já evitaria esses comportamentos. Por outro lado, um sem-número de seguidores de outros credos e os ateus podem sentir-se incomodados com essas críticas contundentes, como se lhes fossem dirigidas. Afinal, mesmo não pensando igual, têm direito ao feriado e aos votos de felicidade e paz, sem que isso implique uma necessária referência religiosa. E, cabe lembrar: embora o cristianismo continue sendo a crença com mais adeptos no mundo, há várias outras religiões, com doutrinas distintas, algumas em franca expansão, como o islamismo.

Na atualidade, inclusive como resposta a discriminações históricas, defende-se o cuidado para com os demais no âmbito das atitudes no convívio social ou do uso da linguagem. Precisamos, assim, estar atentos para não ferirmos aspectos sensíveis inadvertidamente. No contexto religioso, tanto detêm o direito a vivenciar em plenitude sua devoção aqueles que acreditam, quanto os não crentes o têm de aspirar um cunho laico para suas comemorações. De parte a parte, espera-se civilidade, tolerância e direito de escolha.

De modo particular, considero tratar-se de um problema cuja solução deveria ser tranquila, sempre que envolvesse respeito mútuo. Aqueles e aquelas que abraçam uma religião, podem e devem expressar-se livremente (aliás, isto está previsto em nossa constituição), valorizando o elemento espiritual em detrimento do material e, inclusive, expondo-o e conversando sobre o tema com os demais. O que estaria mal seria adotar uma atitude acusadora ou discriminatória para com os que não comungassem de suas concepções. Em igual medida, não cristãos poderiam gozar o feriado, as festividades, com tudo o que comportam, sem cobranças de natureza religiosa. Apenas não lhes caberia depreciar ou tolher a fé e o culto alheios.

Opino que votos sinceros, marcados ou não por palavras e símbolos devocionais, deveriam ser encarados como formas de afeto e, portanto, bem-vindas, independente da configuração assumida. Afinal, cada um fala de seu lugar social, a partir de suas próprias vivências. O importante, em todos os casos, é manter as relações de cortesia e gentileza.

Neste espírito, compus minha mensagem natalina de 2022. Eu somente poderia idealizá-la sob o ponto de vista de uma cristã católica. No entanto, quis destacar o traço que me parece universal na data: o amor vem tocar nossos corações. Por isso, é preciso festejar, agradecer, compartilhar, replicar esse sentimento entre todas e todos, sem limites ou restrições de índole doutrinária. Somos espécie humana, cujos anseios comuns passam pela felicidade e o bem. Isso não requer rótulos, apenas atitudes amorosas.

Então, desejo feliz Natal, para os cristãos! Felizes festas, para os demais! E, para ambos, muita paz, luz e amor.

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2 thoughts on “E por falar em Natal

  • Giselle Bondim

    Que texto bacana, Cristina, você captou a essência do Natal e demonstrou que apesar das nossas desigualdades – inclusive religiosas – é o Amor que justifica a comemoração. Que sigamos Amando porque é isso que nos faz uma coletividade e não uma colônia de bactérias.

    • Giselle, achei genial a sua comparação: “colônia de bactérias”. Ainda bem que lutamos para ser algo mais, não é?
      Que bom que você gostou do artigo! Espero ver sempre você por aqui!
      Bjs.

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