Mãe é mãe
Por: Cristina Vergnano
— Mamãe, isso!
— Mãe, aquilo!
— Manhêêêê!!!
— Por favor, eu sei que sou mãe. Dá um tempinho, vai?!
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Não tem jeito… A gente pode até tentar, mas não consegue evitar repetir à exaustão o vocativo. E é irrelevante se nos referimos às mães biológicas, ou adotivas. Mãe é mãe e filhos são filhos. Não existe isso de ex-mãe. Mesmo as falecidas estão cravadas nos corações e memórias afetivas: voltam de forma recorrente aos nossos pensamentos e palavras.
O mês de maio me é, pessoalmente, significativo. Minha mãe fazia aniversário no dia 7, faleceu no dia 1º e, óbvio, era celebrada no segundo domingo do mês. Em termos sociais, bem sei que esta data comemorativa tem forte apelo comercial, que há pessoas órfãs cuja referência a uma mãe inexistente causa dor e que, nem sempre, a maternidade acontece de maneira feliz e saudável. Apesar disso, não dá para ignorar o dia. Enquanto não fizermos parte de uma sociedade de Admirável Mundo Novo, na qual famílias e relações parentais sejam aberrações primitivas relegadas ao passado, pensaremos em quem ocupa esse lugar.
Na semana passada, um noticiário mostrou a cena de uma mulher desesperada ante o filho preso por assalto a ônibus. Ela se ressentia do presente que estava recebendo pelo Dia das Mães e dizia não o ter criado para isso. Que mãe o faria? — podemos nos perguntar.
Imagino o padecimento daquela senhora. Ninguém quer ver seus entes queridos trilhando caminhos perigosos ou ruins e, sem dúvida, não gostariam de presenciar sua desgraça. Claro que, ao sabê-los culpados, lamentarão, reconhecendo, porém, a necessidade de serem punidos. Apesar disso, creio ser impossível não se afligirem com sua queda.
Assim como lemos no episódio da Paixão de Cristo ou nas imagens de Nossa Senhora da Piedade ou das Dores, muitas, como Maria, têm de chorar as perdas precoces ou as torturas de seus rebentos. Estarão igualadas, em certa medida, à mãe do assaltante do ônibus, pois, seja pela morte ou pelo descaminho, tais mulheres terão presenciado, sentido e agonizado a ausência de suas crianças. Sim, porque, opino, não importa a idade, filhos são sempre crianças aos olhos maternos.
Então, o segundo domingo de maio é dia de celebrar. Cantemos a memória das mães que se foram, como a minha; daquelas cuja vida lhes roubou os filhos; das que, por algum motivo, não conseguiram (ou conseguem) vivenciar o papel; das mães biológicas e das adotivas. Cantemos, pois não somos filhos de chocadeira, não surgimos num laboratório e temos uma origem humana, com suas imperfeições e belezas. Em algum lugar, real, virtual, espiritual ou simbólico, há um colo para nos aconchegar e uns braços que amarão abraçar nosso carinho. Feliz Dia das Mães, hoje e a cada amanhecer!