Digicrônicas

Diabo de verão

Por: Cristina Vergnano

Raio de calor anda fazendo! Está um verdadeiro inferno, do jeito que apenas o diabo gosta. Só que não, né?

Uma sobrinha de oito anos esteve no Rio, depois do Ano Novo, e decidiu fazer uma série de vídeos sobre a cidade para seu canal. Como boa carioca, fiquei toda boba. No trecho sobre Ipanema, por exemplo, ela elogiou a beleza do mar, mostrou o morro Dois Irmãos e chamou a atenção para como o lugar estava cheio. Arrematou, dizendo que muitos turistas procuram cidades de praia para passar suas férias de verão.

De fato, há um monte de gente que o aprecia; não eu. Mas, como se dizia (me perdoem o clichê), o que seria do amarelo se todos gostassem do azul? Preciso admitir que existem vantagens nesta época: sem o frio, as articulações não doem tanto, o céu costuma estar azul e brilhante, há muitas flores nas árvores, é possível ir com maior regularidade à piscina, sem água gelada nem chuva invernosa constante atrapalhando. O problema, contudo, são os senões. Assim, nos sentimos suarentos e malcheirosos com frequência, o calor intenso dá uma terrível moleza, dores de cabeça e inchaço nas pernas, aumentam os insetos desagradáveis, ocorrem temporais e inundações, com estragos e perdas de vidas.

No balanço final, pra mim, os contras superam os prós. Mas, claro, sou uma entre uma enormidade de gente que só espera a chegada de janeiro pra curtir suas férias, com muita praia, cachoeiras, atividades ao ar livre, chopp, petiscos nos barzinhos, shows e outras diversões.

O Rio de Janeiro é uma cidade típica da vida em ambiente exterior. Suas belezas naturais só reforçam essa tendência. Quem não conhece as famosas mesinhas de botecos nas calçadas, cheias de amigos num papo animado, ou de um sambinha improvisado? E quanto ao povo andando relaxado com seus chinelos, em calçadões ou na areia, e às brincadeiras em parques públicos, como a Quinta da Boa Vista ou Floresta da Tijuca? Tudo descontraído e alegre, sem dúvida.

A questão é que o calor vem aumentando, resultado do aquecimento global pelas inconsequentes ações humanas. O que já é ruim, ainda se incrementa quando é ano de El Niño, como em 2024. As ondas de calor têm-se sucedido com uma frequência preocupante, exigindo maior cuidado com hidratação e proteção solar, em especial entre crianças e idosos. Afinal, frio extremo mata, é verdade, mas o calor também. Ainda mais quando há o risco de apagões. Sem a eletricidade, adeus ventilador, ar-condicionado, água fresca (ou mesmo qualquer água, pois as bombas não ligam e o funcionamento das estações de abastecimento pode sofrer danos), geladeira e freezer. Estamos tão acostumados aos confortos modernos, que nos esquecemos de avaliar como eles pesam no desequilíbrio ambiental, por um lado, e que, por outro, são bens culturais, não existem naturalmente por si, e estão inacessíveis para muitas pessoas pobres.

Com tudo isso, aproveito o que é possível, na medida da minha resistência física e psicológica. Algo sempre se salva, embora ache que o diabo combine mais com o verão. E respiro, nos breves intervalos de arrefecimento da temperatura, enquanto anseio pelo mais ameno e amigável outono.

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