Um passaporte para mundos inimagináveis
Por: Cristina Vergnano
Viajar é o sonho de muita gente. Às vezes, só se pode ir para pertinho, ou a única viagem que se faz é a ida e volta do trabalho, devido a ele ficar bem longe de onde se mora. Há viagens dolorosas, como aquelas de despedida de entes queridos. Outras são atribuladas, envoltas nas complicações inventadas por nós, seres humanos: fronteiras, documentação, impedimentos, limite e restrições de bagagem, falta de acomodações e recursos financeiros. Várias delas, porém, quando acontecem, são mágicas e ficam na mente e no coração por toda a vida. Abrem nossos olhos para realidades novas e pessoas novas.
Engana-se quem pensa que só com muito dinheiro e tempo é possível viajar. Existe uma jornada maravilhosa ao alcance de qualquer um. Estou falando da propiciada pelas histórias, pelos livros. Alguém dirá que só os alfabetizados podem desfrutá-las e, também, os livros custam caro. Pois tenho uma novidade: para os analfabetos e as crianças pequenas, há os contadores. São incríveis visitadores de publicações e da tradição oral, recolhida entre gente-livro. Funcionam como mediadores e nos levam pela mão até as terras reveladas por tais passaportes encantados. A respeito dos custos, de fato, vivemos numa sociedade fundada sobre o poder do dinheiro, implicando dificuldades. No entanto, para isso há solução: as bibliotecas. E não apenas elas, mas os presentes, os empréstimos, as doações e os livros digitais um pouco mais em conta. Sempre se pode, enfim, achar um caminho e trilhar a senda das aventuras.
23 de abril foi declarado, pela UNESCO, “Dia Mundial do Livro”, uma homenagem a três grandes nomes da literatura que morreram nessa data, em 1616: Miguel de Cervantes, Inca Garcilaso de La Vega e William Shakespeare. É interessante observar a relevância do tema no mês de abril, pois, no dia 02, se comemorou o “Dia Internacional do Livro Infantil”, homenageando o aniversário de nascimento de Hans Christian Andersen.
As viagens literárias são especiais, porque, ao contrário das reais, não se limitam ao deslocamento no espaço. São capazes de nos levar para o passado, o futuro e a tempos e locais existentes apenas na imaginação criativa das autoras e autores, mas, compartilhados conosco por eles. Somos capazes de nos apaixonar, odiar, alegrar, entristecer, aprender e sonhar com personagens e eventos muito além de nossas experiências cotidianas. E tudo isso, sem sairmos do nosso lugar.
Há um encanto próprio em viver tão intensamente outras vidas e situações, às vezes, desafiadoras, assustadoras e perigosas, com a segurança do espectador e a intensidade do protagonista. Mergulhemos, então, nessas águas, agarremos nossos passaportes e viajemos para onde nosso desejo nos levar, nas asas dos livros. Ótima leitura!